Mulher leva cadáver de idoso a banco para sacar R$ 17 mil

Um dos funcionários do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) mobilizados para a agência bancária em Bangu, na Zona Oeste do Rio, para onde um doso foi levado, nesta terça-feira, numa cadeira de rodas, afirmou à polícia que não poderia fazer a declaração da morte porque havia sinais de intoxicação exógena — exposição a substâncias químicas — e, por isso, seria necessário levar o corpo para o Instituto Médico-Legal (IML).

De acordo com o depoimento, o Samu foi acionado por volta das 15h para ir até a agência bancária. Às 15h20, uma equipe do 14º BPM (Bangu) também foi chamada ao local para verificar uma denúncia de morte no banco. Ao chegar ao local, os PMs fizeram contato com o médico do Samu, que informou que o cadáver era de Paulo Roberto Braga e que ele estaria morto havia pelo menos duas horas. Segundo o depoimento, isso foi constatado porque o corpo do idoso, de 68 anos, já apresentava livores — manchas escuras que correspondem às zonas de falta ou de acumulação de sangue —, que costumam aparecer após esse tempo.

— Ela (Érika de Souza Vieira Nunes, que se apresentou como sobrinha do idoso) falou que ele estava vivo e que ele que quis ir lá pegar o dinheiro do seguro. Esse seguro já tinha sido realizado, segundo ela, no dia 25 do mês passado e ele só queria pegar o dinheiro do seguro. Então, ele pediu a ela e ela o levou até lá para pegar o dinheiro. Só que no vídeo, é visível, dá para ver claramente que ele já estava morto porque ela levanta a cabeça dele várias vezes, pega na mão dele. Ele está visivelmente morto — afirma o delegado Fábio Luiz de Sousa, da 34ª DP (Bangu).

Também em depoimento, uma das funcionárias da agência bancária contou que, num primeiro momento, achou o idoso muito debilitado. Ao se aproximar do local onde ocorria o atendimento, orientou que a assinatura de Paulo Roberto deveria ser igual à da carteira de identidade. No momento em que o idoso deveria assinar, porém, a funcionária afirma que ele não respondia e estava com aspecto pálido e sem apresentar sinais vitais.

Foi quando Érika, de acordo com o relato da funcionária, colocou uma caneta na mão de Paulo Roberto, levando-a mão até a mesa. A funcionária afirmou que isso tudo aconteceu mesmo com o idoso estando claramente desacordado.

Registro em vídeo

Érika chegou com Paulo Roberto ao banco num carro de aplicativo. A polícia tenta localizar esse motorista. À polícia, a mulher afirmou que era prima do idoso — os investigadores confirmam um grau de parentesco, mas alegam que os registros indicam que ela era prima do homem — e cuidadora dele.

— A gente vai procurar identificar, porque não foi identificado e a gente vai tentar ouvi-lo — revelou o delegado.

Segundo delegado Fábio Luiz Souza, Érika é parente de Paulo Roberto:

— Existe um grau de parentesco. Ela se diz sobrinha, mas na documentação ela seria prima dele. Ela fala que foi um caso de registro mal feito, que a avó da mãe registrou a mãe como filha, e por isso ela sai como prima.

A tentativa de Érika fazer com que Paulo Roberto assinasse a documentação para o saque de R$ 17 mil de um empréstimo foi registrada em vídeo. Nas imagens, é possível perceber que a mulher segura a cabeça de Paulo Roberto e diz: “Assina para não me dar mais dor de cabeça, ter que ir no cartório. Eu não aguento mais”.

Enquanto isso, os funcionários do banco salientam que algo de errado está acontecendo com o idoso. “Eu acho que ele não está legal, não está bem, não”, diz uma atendente.

Érika continua: “Tio Paulo, precisa assinar. Se o senhor não assinar, não tem como. Eu não posso assinar pelo senhor, o que eu posso fazer, eu faço. Igual ao documento aqui: Paulo Roberto Braga. O senhor segura (a caneta). O senhor segura forte para caramba a cadeira aí. Ele não segurou ali a porta?”, diz Érika na imagem gravada pelos funcionários.

O corpo de Paulo Roberto foi levado para o Instituto Médico-Legal (IML), onde passará por exames para constatar a causa da morte. Érika foi autuada por vilipêndio de cadáver e furto mediante fraude.